Sílvio Feitosa

22 de nov de 20192 min

Margarete Aurélio

Atualizado: 1 de mai de 2020

Entrelinhas

Ensaio sobre meninas e meninos

Um ziguezaguear riscando o papel em frenéticos esforços de imprimir imagens, retirando de sua mente, não o mimetismo formal, mas a impressão dominada de toda a emoção.

Uma obra digna das melhores casas de arte do mundo. Essa foi a minha impressão ao deparar-me com os trabalhos de Margarete Aurélio, expostos no Celeiro Espaço Criativo, em João Pessoa. A artista, natural de Campina Grande (1967), mora atualmente na capital paraibana.

O traçado firme imprime no papel e tela grafismos em linhas nervosas, às vezes fluidas, representando luzes e sombras, matizando a textura das faces em suas várias expressões. Tristeza, esperança, alegria, descaso são percebidas como se fossem fotografadas em um dia casual, em uma grande roda de amigos. A simplicidade retratada reflete o encantamento e o respeito com os quais a artista desenvolveu o seu trabalho.

Flávio Tavares descreve Margarete Aurélio como: "A fiandeira"

“Como na Fábula de Aracne, as linhas nas suas mãos vão tecendo uma teia com movimentos palpitantes, ressonantes desenhos que expressam a dor e a angústia da alma humana.

Flávio Tavares

As figuras posam livres de preconceitos, girando em grandes saias rodadas, ou envoltas em grandes panos, estampados por riscos traçados em fios que ligam a ação à representatividade da liberdade. Muitas figuras são fluidas, traçadas como se um desenrolar casual do novelo saísse do controle da artista e se derramassem em fios languidos representando a fragilidade da inocência e as lágrimas do desencanto.

Duas grandes obras chamam a atenção na exposição: retratam crianças, aparentemente de etnias diferente, rodando e dançando com belas saias de retalhos, em uma representação da bela cultura e riqueza local. Tal qual borboletas que abrem suas azas coloridas para voar com toda a sua alegria, sem se macular com os preconceitos e a maldade humana. É a verdadeira representação do paraíso dos inocentes.

Segundo Dyógenes Chaves, em sua mensagem de abertura, “O desenho está presente na obra de Margarete Aurélio de forma marcante, embora ela tenha se notabilizado como pintora figurativa, cujos retratos e cenas de crianças representam sua maior produção. Aliás, registre-se que antes de usar papel e tinta para executar suas pinturas a artista sempre realiza - num jogo permanente de faz-desfaz-refaz – desenhos em carvão, pastel seco ou grafite como esboço e estudo... No entanto, esse desenho vai, aos poucos , dar lugar às cores e traços fortes tão característicos na sua pintura,” escreve o artista.

A exposição está aberta à visitação pública no Celeiro Espaço Criativa em João Pessoa.

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