
Experimento, Levante. Cris Peres. Curadoria. Érica Burini. Usina Cultural Energisa, João Pessoa PB. 10 de agosto a 9 de setembro, 2023.

No mundo das coisas, onde tudo é determinado e cada objeto tem sua função no espaço social, a exposição Experimento, Levante, da artista das artes visuais, Cris Peres, com curadoria de Érica Burini, causa-nos espanto. A mostra em cartaz na Usina Energisa em João Pessoa, PB, mexe com os conceitos que formatamos em torno de determinados objetos.
A organização e reestrutura de objetos, do nosso cotidiano, dentro de um espaço e iluminação apropriados, dá vida a uma instalação que mexe com nossos saberes. A Mostra revive as ideias do Dadaísmo que defendia o absurdo, a incoerência, a desordem, o caos. Movimento liderado por Marcel Duchamp, no início de século XX.

A ideia de que os objetos possuíam outro lado e está muito mais além do que realmente vemos é perceptível na idealização de Cris. A cadeira e os materiais que a compõem, são dissecados e reestruturados de forma a criar um ambiente metafísico, convidando a assistência a repensar os seus conceitos das coisas.

A maciez das espumas, tão utilizada nos assentos das cadeiras, se apresenta, no trabalho Memória do Conforto, como uma condição em projeto de fossilização, resguardando parte de sua originalidade, diante da rigidez futura.

O descanso de cabeça se apresenta como um rígido bloco de cimento, moldado com as digitais de sua utilidade, os aprofundamentos irregulares denotam noites inquietas, movidas por sonhos e pesadelos.

As várias remontagens do objeto cadeira, expressam viagens psíquicas de reestruturação do ser, apresentando-se com aparência Frankensteiniana. A artista coloca toda a sua admiração pelo objeto, apresentado de forma que vai além de sua função real, que seria a de fornecer um assento confortável e estável para uma pessoa se sentar. A cadeira deixa de ser um suporte para o corpo utilizado nas atividades, como trabalhar, estudar, comer, descansar, conversar ou participar de reuniões, para assumir novas posturas, como no trabalho, levante nº 4, assumindo postura de guardiã da história de seus materiais, espumas organizadas, tais quais livros, que contam nos seus desgastes, cor, textura, lombadas a riqueza do tempo vivido.

A grande aracnídea estrutura, com suas pernas alongadas e o reposicionamento de um acento, já desgastado pelo uso, para mim, assume a posição de revolta, insurreição da cadeira que se recusa a aceitar passivamente a sua condição, simplória, de simplesmente ser cadeira. O objeto ganha uma postura ameaçadora, tais quais sombras bruxuleantes, tão comum nos momentos aterrorizantes de nossos pesadelos. Lembra a cena do filme exorcista, em que a personagem se contorce e passa a caminhar em posição de aranha caranguejeira às aversas.

As monotipias apresentadas pela artista, demonstram a sua habilidade de lidar com as estruturas, montando e remontando traços, espaços e tonalidades para transmitir, com clareza, as suas ideias para os visitantes.
A montagem da mostra foi feliz em explorar o espaço em sua totalidade, fazendo com que as peças conversem entre si, através de uma rede neural de sombras projetas nos espaços vazios, casando-se perfeitamente com a estrutura e ambientação do espaço Energisa.
A mostra está em cartaz até o dia, 09 de setembro de 2023, sendo uma grande oportunidade para se fazer uma imersão pelas ideias e beleza da arte de Cris Peres.
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