Impressões Urbanas - Entre rua e galeria
- Sílvio Feitosa

- 19 de out.
- 2 min de leitura

Vá à galeria e faça um passeio fora do espaço expositivo
Entrar na galeria e mergulhar em questionamentos sobre o cotidiano urbano. Foi assim que me senti ao visitar a mostra “Impressões Urbanas – Entre a rua e a galeria”, em cartaz na Usina Cultural Energisa, em João Pessoa.
Com curadoria de Dyógenes Chaves e Thayroni Arruda, a exposição integra o projeto LAB Ocupação Artes Visuais e reúne obras de Albenise Vasconcelos, Felipe Tomaz de Moraes, Luiza Ribeiro, Mario Melo, Zello Visconti e Ferdinnandes.

Os trabalhos apresentados dialogam com os desafios e as inquietações da vida nas cidades — das manifestações artísticas às discussões político-sociais —, refletindo sobre o modo como habitamos e ressignificamos o espaço urbano.
Em “Impermanência”, a artista Albenise Vasconcelos nos convida a refletir sobre o que é perene e o que é transitório, representando em imagem a delicadeza simbólica da perda dos dentes de leite de uma criança — metáfora visual da passagem e da mudança. Zello Visconti destaca a importância do traço como elemento estruturante das formas e da própria cartografia urbana. Já Luiza Ribeiro, em “Mil Andares” e “Cidade Construída”, tece uma trama que entrelaça tempo e espaço, sugerindo uma cidade que se refaz sobre si mesma. A artista provoca ao propor, de forma hipotética, a destruição de um bem tombado para erguer uma edificação de mil andares — um impacto visual e simbólico sobre a especulação urbana.
Ferdinnandes, com “A Santa que não fala”, revisita uma imagem já existente, sobrepondo novas grafias e reinterpretando o sagrado a partir de seu olhar crítico e pessoal.
No centro da mostra, a obra “Lugar do Nego”, de Felipe Tomaz de Moraes, chama atenção ao redesenhar o pavilhão estadual: o artista desloca a figura do “Nego” para o campo negro da bandeira, enquanto o vermelho vaza, intenso, dessa área calcinada. Já em “Caminhos dos afetos perdidos”, o mesmo artista denuncia as intervenções urbanas que apagam memórias coletivas — o asfalto substituindo o calçamento de pedra ou barro, transfigurando a cidade e as lembranças de seus moradores.
Maria Melo, em “Ratas”, apresenta uma potente releitura fotográfica: retratos de personagens da cena cultural e marginal pessoense ganham textura e linguagem inspiradas no lambe-lambe e nas pichações urbanas, tensionando arte, marginalidade e memória.
Destaca-se ainda a obra “Patrimônio Tombado”, que estabelece um paradoxo entre a preservação e o abandono: o que deveria ser símbolo de história e pertencimento surge, aqui, como ruína descartável da memória coletiva.

A mostra “Impressões Urbanas – Entre a rua e a galeria” permanece aberta à visitação na Usina Cultural Energisa, em João Pessoa. Vale a pena o passeio — dentro e fora do espaço expositivo.

Usina Cultural Energisa – João Pessoa, PB
Visitação gratuita
Texto: Sílvio Feitosa





Comentários