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O Pilar e a Sombra 


Aethel

O Pilar e a Sombra 

 


Orin

Na grande cidade de Aethel, erguia-se o Colosso de Mármore, uma estátua do Grão-Regente Orin, tão alta que sua sombra cobria os bairros baixos ao entardecer. A sombra, diziam os sábios cortesãos, era um manto de proteção. Para os que viviam nela, era a ausência permanente do sol. 

 

Orin governava não com exércitos, mas com palavras. Sua corte era composta por Tecelões de Narrativas, homens e mulheres cujo ofício era fiar a realidade em um tecido que vestisse o poder com a roupagem da necessidade e da virtude. A narrativa mestra de Aethel era simples e repetida em todas as praças, escolas e tribunais: "O Colosso é que sustenta o céu. Sem ele, tudo desabaria." 

 

E quem era o Colosso? Orin, claro. E o que sustentava o Colosso? Ah, essa era a beleza da engenharia social. O Colosso era sustentado pelos "Alicerces Vivos" – os habitantes dos bairros baixos, os catadores de lixo, os amassadores de barro, os carregadores de água. Eles, os oprimidos, eram a base física e moral sobre a qual o opressor se erguia. 

 

Kaelen era um desses Alicerces. Seus dias eram gastos nas minas de pedra-lume, no subterrâneo da cidade. O suor de seu rosto alimentava as lâmpadas que iluminavam os salões de Orin. Ele via outros morrerem de fadiga, de doenças pulmonares, de desespero. Mas sempre que a revolta fervia em seu peito, a Narrativa o alcançava. 

 

O Sacerdote da Praça bradava: "A força do Alicerce é a nossa força! A resignação do trabalhador é a virtude que mantém o céu no lugar! Cada sacrifício de vocês é uma pedra preciosa na fundação da nossa grandeza!" 

 

A opressão não era apresentada como exploração, mas como um fardo sagrado. O escravo não era visto como uma vítima, mas como o pilar mudo e essencial de uma civilização que, sem seu sofrimento silencioso, ruiria. Os tiranos, os Tecelões, haviam construído um mundo onde a vítima era convencida de que a algema era uma joia de honra. 

 

Um dia, um velho mineiro, prestes a morrer, sussurrou para Kaelen: "O Colosso não sustenta o céu, filho. O céu não precisa ser sustentado. Ele só nos faz crer nisso para que não ousemos olhar para cima." 

 

Essas palavras plantaram uma semente de heresia na mente de Kaelen. Ele começou a ver as fissuras na Narrativa. Percebeu que a "força" que eles louvavam era a sua fraqueza imposta; a "virtude" que elogiavam era a sua submissão forjada. O opressor não apenas explorava o corpo do oprimido, mas sequestrava sua própria identidade, transformando-o no garoto-propaganda de sua escravidão. 

 

A verdade era simples e terrível: o tirano não se sustenta sobre os ombros dos oprimidos, mas dentro de suas mentes. A narrativa era o verdadeiro pilar. O medo do caos, a culpa pela desobediência, o orgulho perverso de carregar um fardo – essas eram as correntes mais fortes. 

 

A revolta que Kaelen sonhava não era com foices e machados. Era com uma pergunta. Uma pergunta simples, que ele começou a sussurrar nos corredores escuros da mina, nos mercados, nos ouvidos de quem ainda conseguia lembrar o sabor do sol. 

 

"E se um dia," ele perguntava, "nós, os Alicerces, simplesmente nos recusarmos a sustentar?" 

 

A pergunta correu como um fogo subterrâneo. Não era um grito de guerra, mas um silêncio ponderado. E então, num dia como qualquer outro, Kaelen e centenas de outros simplesmente pararam. Não saíram para a mina. Não carregaram a água. Não amassaram o barro. 

 

Não houve violência. Apenas uma pausa. 

 

No alto, no seu palácio, Orin sentiu o primeiro tremor. Não era um tremor na terra, mas na alma da cidade. As lâmpadas de pedra-lume apagaram-se. As fontes secaram. O murmúrio constante do trabalho que sustentava o luxo silenciou. 

 

O Colosso não caiu com estrondo. Ele começou a inclinar-se, lenta e irremediavelmente, porque as vozes que o mantinham ereto haviam calado. O céu, perceberam todos, permanecia perfeitamente no seu lugar. 

 

Os tiranos, Kaelen compreendeu naquela hora silenciosa, são a mais frágil das construções. Eles erguem seus tronos sobre um único e precário alicerce: a crença dos oprimidos de que são fracos. Quando o escravo descobre que é o pilar, o peso do tirano deixa de ser uma carga e torna-se, simplesmente, o que sempre foi: um fardo inútil que pode ser sacudido com um único e decisivo movimento de recusa. 

 

 

Narrativa organizada pelo DeepSeek a partir de uma solicitação de Sílvio Feitosa:  Crie uma narrativa em que o oprimido é o sustentáculos do discurso do opresso, o escravo é o pilar que sustenta o escravizador e o tiranos se sustenta nas narrativas capazes de lhe manter no poder. 

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Sílvio Feitosa

Arte de Sílvio Feitosa Exposta no Celeiro Espaço Criativo em João Pessoa PB

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